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O abandono

No interior de Porto União, a ferrovia confunde-se com a mata que a cobre de esquecimento e abandono. Quanto mais longe se vai, menos é possível ver o que restou. Por outro lado, Engenheiro E. de Mello mostra um local preservado, mas que ainda precisa de atenção.

 As estações de Aquiles Stengel, Nova Galícia, Cerro Pelado e Maquinista Molina, que agora estão abandonadas, foram inauguradas por volta de 1950 e as casas, em 1942. Segundo o professor Vitor Marcos Gregório, todas as casas da ferrovia eram construídas com o objetivo de povoar um local que era isolado. Mas a história teve início antes disso. A maioria das estações foram construídas em 1908. Elas eram feitas de madeira e foram destruídas com a linha ferroviária antiga para dar lugar às novas construções.

O difícil acesso em Achiles Stengel mostra um local desassistido.  As casas estão, em sua maioria, ocupadas ou destruídas. É o local que abriga mais moradores entre as vilas do interior. Ao chegar à estação, percebe-se a mata cobrindo a ferrovia e o pontilhão. Os moradores, entre famílias com muitas crianças que brincam na estação esquecida com suas bicicletas, parecem tímidos com a visita. Logo entram em suas casas, fato que impossibilita a tentativa de aproximação para a reportagem.

 

Quando a aproximação acontece, a opção por não falar foi mantida. Entre os inúmeros motivos, o morador justifica que não sabe o que dizer, com o tímido semblante de quem diz que chegou depois da história. No entanto, a história acontece, mesmo que esquecida. Uma vida simples entre o varal de roupas estendido no quintal das casas ou cruzando a linha de um lado para o outro, com singelas plantações em volta, crianças descalças, compõem o cenário de abandono, mas de uma linda vista para o vale. Espaços que guardam histórias se repetem a cada vila visitada, com a marca de um tempo que trouxe desenvolvimento, mas agora é marco de um abandono. Confira nas fotos a seguir:

Seguindo a ferrovia no interior de Porto União, a próxima estação fica em Nova Galícia. Lá havia outra estação de trem, que foi inaugurada em 1908. Essa ferrovia já não existe mais, pois foi demolida. Muitos a chamam de Galícia Velha e foi naquela estação que o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, desceu quando visitou o Brasil em 1913.

 

Aquele local foi marcado pela Guerra do Contestado, quando muitas notícias das tropas federais eram passadas pelo telégrafo daquela estação.

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A construção da nova estação, em 1950, demorou dez anos para ser realizada. O local, que tinha a expectativa de se tornar uma cidade na época, foi se tornando vazio. Atualmente, somente uma família mora em uma das casas da extinta RFFSA, pois as outras estão em estado de total abandono:

Cerro Pelado é a próxima estação no interior do município. Lá, a estação encontra-se quase imperceptível. As casas da rede ferroviária também já não são mais visíveis, quando somente uma família parecia fazer moradia em uma das casas, agora um pouco modificada e afastada da estação. Saiba mais acessando a galeria abaixo:

A situação ainda é de mais abandono quando a Estação de Maquinista Molina se fez o destino final do roteiro. Onde ela está? Essa é a primeira pergunta que surge, pois ela somente pode ser vista quando a caminhada é feita pelos trilhos do trem. A estação de Maquinista Molina era idêntica a estação do Engenheiro E. de Mello, mas agora só restou a sua plataforma. As casas que marcaram aquela época estão todas demolidas também. Os tijolos ou a base da construção que restou pode ser visto logo ao lado da estação ou no interior de uma pequena trilha, ao lado da linha. Veja nas fotografias abaixo:

O que restou

A estação ferroviária Engenheiro Eugênio de Mello também foi inaugurada por volta da década de 50. Um ponto turístico preservado em Porto União atrai turistas, transformando-se em um cenário de muitos ensaios fotográficos.

 

A Estação também já foi um set de filmagem em  2010, quando houve a gravação do filme “A saga: da terra vermelha brotou o sangue”. O filme foi produzido por Manaoos Aristides e é sobre colonização paranaense. Com produção independente, já foi transmitido pela TV Brasil. O ator João Vitti fez parte do elenco e a Maria Fumaça 310 ilustrou os cenários. Entre 2008 e 2010, havia passeios com a Maria Fumaça, que fazia o trajeto entre o centro e o Engenheiro Mello. Dez anos passados, o esforço para restaurar os caminhos parecem dobrados.  Por muito tempo, a Maria Fumaça permaneceu estacionada na Praça do Contestado, no centro da cidade.

Atualização: Em 2021, a locomotiva Maria Fumaça 310 está passando por reformas. Os vagões estão em Porto União e a máquina, em União da Vitória - sob responsabilidade grupo de empresários do Trem das Etnias S.A.

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A vila que era ocupada pelos trabalhadores da RFFSA agora é um local onde a história da região se preserva com a permanência de moradores que mostram-se preocupados com a conservação do local. Situada a seis quilômetros do centro de Porto União, é a única que está recuperada. 

Consideradas como patrimônio histórico, as vilas ferroviárias pertencem ao governo federal e foram tombadas pelo IPHAN, O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Entre as famílias que ocupam as 14 casas da vila, Bernard Michael Damasceno faz parte daqueles que preservam o patrimônio histórico. No áudio, o morador explica o que ele já reformou:

Morador fala sobre a reforma -
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A estação União marca o cartão-postal de União da Vitória e Porto União. Quem visita a cidade pela primeira vez encanta-se com a possibilidade de estar em dois estados, praticamente ao mesmo tempo. Em 1905, oito anos antes da guerra do Contestado, havia duas estações em Porto União da Vitória, que pertenciam ao Paraná. Uma ficava em São Cristovão  e outra nas proximidades do que é atualmente a rua Visconde de Guarapuava.

 Após a guerra, o limite ficou estabelecido e em 1942, a Estação União tomou o lugar das duas estações de madeira, que foram demolidas. Essa construção facilitou o transporte de cargas e pessoas. Característica inconfundível das cidades irmãs ou cidades gêmeas, como são conhecidas, a união que a estação proporcionou tem mais uma característica única: o túnel interestadual. Ele ficou durante muito tempo sem manutenção.

 

Antonio Xavier Paes, ex-ferroviário, tomou iniciativa para fazer a manutenção, e assim, drenar a água que se acumulou dentro do local. “Eu peguei as chaves e tomei as providências. Muitos falaram que não era para eu entrar aqui sem autorização das prefeituras. Mas não podia ver isso acontecer. A água estava tomando conta de um patrimônio ferroviário histórico e estava muito alta”, desabafa. Com a doação do material utilizado para a drenagem pela Sanepar, Paes continua o seu trabalho.

 

A estação recebe shows, feiras, festas e diversos eventos. A Câmara de Vereadores de Porto União também fica no antigo prédio.

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